sábado, 26 de fevereiro de 2011

Irmãs se reencontram após 70 anos


Por causa dos maus tratos da madrasta, Eugênia, hoje com 92 anos, e Maria, com 95, fugiram juntas de casa. Quando pensaram que a ligação entre elas havia acabado, a vida reservou-lhes uma grande surpresa


Por Cinthia Meibach
Em 1918, ano em que a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim, nascia no bairro de Livramento, zona rural da cidade de Osório, no Rio Grande do Sul, uma verdadeira guerreira, chamada Eugênia Soares. 
Quando tinha apenas 1 ano, a mãe, que esperava mais uma menina, morreu no parto, e o pai, sem condições financeiras e emocionais de criar a nova criança, decidiu deixá-la aos cuidados do irmão. Mas, após 6 anos, a garota também morreu. 
Então, Eugênia tornou-se a caçula entre cinco irmãos e, ao lado da única irmã, Maria Soares, 3 anos mais velha, sofreu nas mãos da madrasta. “Após a morte da minha mãe, meu pai casou com a irmã dela, minha tia, mas ela batia muito em todos os filhos, a ponto de nos agredir com um grosso tamanco, até sangrar. O sofrimento era tanto que meus irmãos foram embora de casa, ficando apenas eu e a Maria”, lembra. 
A rotina das duas era a de ajudar o pai no sustento da casa, que consistia na plantação de milho e feijão, mas a recompensa eram os maus tratos pela madrasta. Até que um dia, quando Eugênia estava com 14 anos, a irmã Maria, à época com 17, fez um convite irrecusável, a fim de livrá-las do julgo da tia má: fugir de casa. 
Elas colocaram o plano em ação e, em uma tarde de verão, pegaram algumas roupas e saíram mato adentro em direção à usina de açúcar em que o namorado de Maria trabalhava. “Eu lembro que quando chegamos lá, ele havia separado três cavalos para a nossa fuga, mas como eu nunca havia montado, subia por um lado e caia pelo outro”, conta Eugênia, achando graça da situação que viveu. 
Após muitas quedas da iniciante montadora, os três chegaram ao centro de Osório (foto acima) e, de lá, as duas irmãs partiram de ônibus em direção a Porto Alegre, capital do estado. “Quando meu pai descobriu que estávamos lá, ele foi nos buscar, mas não adiantou. Fugimos novamente”. 
Sempre juntas, as duas irmãs fixaram residência na capital, na esperança de constituírem uma nova vida, deixando para trás as marcas de açoites que carregavam no corpo e na alma. 
Mas a união das duas estava com os dias contados, pois, aos 18 anos, Eugênia começou a namorar o carregador de cargas portuárias Cassiano Corrêa (foto ao lado), até decidirem viver juntos. “Eu fui morar com ele em Porto Alegre e tivemos três filhos. Um dia, após uma briga, ele foi embora para São Paulo e, alguns meses depois, me ligou, pedindo que fôssemos encontrá-lo, pois estava à nossa espera”. 
Em meados dos anos 40, apaixonada e disposta a dar um futuro melhor para os filhos, Eugênia contrariou Maria e embarcou em um navio, rumo à metrópole desconhecida. Desta data em diante, a irmã caçula rompeu todos os laços que tinha com o pai e irmãos gaúchos, formando uma nova família em São Paulo, composta por 10 filhos, mais de 30 netos e mais de 10 bisnetos. 
Apesar das raízes dela terem se fincado na zona norte da capital paulista, dentro dela ainda havia a esperança de um dia retornar à terra natal e encontrar os entes queridos. “Por três vezes eu viajei a Porto Alegre, mas quando chegava lá, sempre algo acontecia e eu não conseguia ir em busca de ninguém. Então, retornava para casa, cada vez com menos esperança de encontrar algum irmão vivo”, declara. 
Hoje com 92 anos, a viúva Eugênia pensava que já havia vivido todas as emoções possíveis para a idade, mas a maior surpresa ainda estaria por vir. 
Decidido a por um fim neste vazio que acompanhava a mãe por 70 anos, no primeiro mês de 2011, um dos filhos de Eugênia, Cassiano Soares Corrêa, de 60 anos, foi com ela mais uma vez ao Sul do País, em busca de informações sobre o paradeiro da família gaúcha. “Eu fui determinado a encontrar alguém, nem que fosse apenas um primo, pois durante todos esses anos nunca tivemos tios, tias ou primos. Eu sentia falta desses laços”, revela Cassiano. 
Após muitas buscas em cartórios, prefeitura e com os moradores de Osório, Cassiano descobriu o endereço da prima Vera Regina Alves, filha de Maria, a mesma irmã que havia fugido com Eugênia. Ao chegar à casa dela, a emoção tomou conta de todos, pois apesar da avançada idade, 95 anos, e de estar acamada em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), Maria demonstrou reconhecer a irmã. “Foi emocionante, pois quando minha mãe a viu, ela levantou a cabeça, querendo falar algo, mas não conseguia”, diz Vera. 
Ao deparar-se com a irmã (foto ao lado), a emoção que tomou conta de Eugênia foi tão forte que ela emudeceu.  Ela conta que ao mesmo tempo em que se entristeceu em ver a irmã acamada, ficou feliz por reencontrá-la. “Por mais que ainda tivesse um restinho de esperança de ainda encontrar alguém vivo, não esperava que essa pessoa fosse a Maria. Quando a vi, nem acreditei que o que estava acontecendo era real, as lembranças do que passamos voltaram todas, como um filme”. 
Depois de longas conversas, perguntas e respostas de ambos os lados, os recém conhecidos parentes despediram-se e Eugênia voltou para a realidade dela sem saber ao certo se as mesmas lembranças afloradas por ela, no momento do encontro, também existiram da parte da irmã. 
Questionada sobre qual lição a vida lhe deu com toda essa história, Eugênia responde pausadamente: “Eu lamento muito não ter ido atrás dos meus familiares nas outras vezes em que estive lá, pois, com certeza, teria encontrado meus outros irmãos vivos, e até mesmo meu pai, pois me disseram que ele morreu aos 100 anos. Mas, essa é mais uma surpresa que a vida me aplicou, e espero ainda ser surpreendida muitas outras vezes, pois, pelo que vi, a longevidade é a marca da família Soares”, finaliza, demonstrando estar pronta para outras emoções que a vida lhe reserva.

Água: um bem finito que fará muita falta



Pequenas ações diárias e métodos de reuso podem prolongar a água no planeta


Por Cinthia Meibach


A falta de água quando se está com sede ou ao abrir o chuveiro para tomar banho, mesmo que seja por um curto período de tempo, incomoda bastante. A maioria das pessoas está acostumada a desfrutar deste recurso abundantemente, porém, por mais que o planeta Terra seja composto por três quartos de água, 97% desse total é salgada, e somente 3%, doce. Dessa quantidade doce, apenas 1% é composto por água potável. Embora a quantidade para consumo seja pouca, muitas pessoas desperdiçam essa minoria, fazendo o uso sem controle do recurso natural.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa necessita de 3,3 mil litros de água por mês, o que corresponde a 110 litros por dia para atender as necessidades de consumo e higiene. No entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros por dia.

A ambientalista e presidente da Organização Não Governamental (Ong) Niega, Aparecida Fonseca, acredita que a água se tornará escassa, caso não ocorra o uso consciente do recurso natural pela população. “A água obedece a um ciclo natural de reposição, porém, com o aquecimento global, esse ciclo poderá ser alterado, provocando a escassez desse recurso. Além disso, temos também o desperdício da água que vai parar em rios e represas poluídas, ocasionando a perda. Poderia ser tratada para o abastecimento humano”, explica.

Ela faz questão de ressaltar que a conscientização promovida pelo Governo e pelo setor privado, por meio de campanhas na mídia, informativos em empresas, distribuições de cartilhas, promoção de eventos sobre o uso racional e um programa de reuso da água, poderá contribuir para que as pessoas utilizem o recurso de forma adequada.

Reutilização

Algumas empresas e Ongs se esforçam para implantar um programa de reuso da água, adotando métodos de utilização da água de chuva para lavar calçadas e quintais, da água do banho para descarga e o reuso presente no esgoto. Esses reaproveitamentos, na prática, poderiam suprir quase 100% da água de um lar, porém, o alto custo de algumas instalações impede que a população aplique os sistemas nas residências.

A bióloga, Dina Alves, de 37 anos, bem que gostaria de aplicar algum sistema de reuso no apartamento em que mora, porém a falta de espaço inviabiliza a instalação. Mas, mesmo assim, ela faz o que pode para preservar ao máximo o recurso natural. "Eu faço a minha parte, reduzo o consumo da água, de energia e reciclo o lixo. Por causa desses pequenos gestos, algumas pessoas a minha volta seguiram o meu exemplo e reduziram o consumo", declara.

Visando transformar essa realidade, instituições e pessoas comuns dedicam o tempo para pesquisas e invenções de modos sustentáveis que possam ser incorporados pela população. Uma dessas pessoas é o técnico agrícola Edison Urbano. Ele criou uma organização chamada “Sempre Sustentável”, em que oferece dicas de como instalar equipamentos de reuso de água, como por exemplo minicisternas feitas com galões (foto ao lado), sem gastar muito e em espaços pequenos. “Ao instalar uma cisterna grande, que coleta a água de chuva, a pessoa tem uma economia de 30% no pagamento da conta de água. Se optar pelo reuso da água do banho, economizará mais 30%. Os projetos são manuais e baratos. Aplicando esses métodos, o planeta é beneficiado e o bolso das pessoas também”, afirma.

Como economizar

A água deve ser utilizada com cautela, pois apesar da aparente abundância em nosso País, é um bem finito, que fará muita falta. Por isso, seguem algumas dicas de economia que podem ser incorporadas ao dia a dia de todos, diminuindo os gastos deste recurso tão precioso:

- Não use mangueiras para lavar pisos, calçadas e automóveis. Utilize água de lavagem de roupas, reaproveitando a água que seria jogada na rede de esgoto;

- No banho, estipule um período de no máximo 5 minutos e, quando possível, desligue o chuveiro enquanto se ensaboa;

- Feche torneiras enquanto escova os dentes, faz a barba e ensaboa a louça;

- Troque as válvulas de descarga por caixas acopladas ao vaso sanitário com limitador de volume por descarga;

- Não lave a roupa aos poucos, deixe acumular um pouco e lave tudo de uma vez;

- Ao molhar as plantas, use o regador em vez de mangueira;

- Em caso de vazamentos, procure assistência o mais rápido possível.

Xenofobia afeta imigrantes na Europa


Em Portugal, estudo aponta que grupos minoritários compostos de negros e imigrantes foram vítimas de racismo e de discriminação


Por Cinthia Meibach

Dados da Organização Mundial de Imigrações apontam que nem a crise econômica que afetou a Grécia no começo deste ano e se estendeu à Irlanda, ameaçando também países como Portugal, Espanha e Itália, impediu que imigrantes chegassem ao continente Europeu em busca de uma vida melhor. De acordo com o órgão, nunca o planeta contou com tantas pessoas vivendo fora dos países de origem como no ano de 2010. Dos 214 milhões de imigrantes, um terço vive na Europa.

Porém, diante do desemprego recorde que atinge o continente, afetando cerca de 23 milhões de pessoas, muitos países recorrem a medidas de expulsão de estrangeiros e de criação de barreiras contra a entrada de mais imigrantes, o que faz despertar nos europeus sentimentos de intolerância e de xenofobia – termo utilizado para se referir a qualquer forma de preconceito, racial, grupal ou cultural.

Na Suíça, no último dia 28 de novembro, foi aprovado um projeto de lei que prevê a expulsão automática de estrangeiros condenados por crimes, sem levar em consideração a gravidade dos delitos. A proposta do projeto partiu de um dos maiores partidos políticos da Suíça, a União do Centro Democrático (UCD), que é conhecido por incentivar a xenofobia por meio de cartazes e mensagens contra os imigrantes.

Embora a lei portuguesa garanta a todos os cidadãos residentes no país dignidade e oportunidades idênticas, visando eliminar o racismo e a xenofobia, um estudo realizado pelo Centro de Investigações e Ciências Sociais e Humanas Númena, publicado em Portugal no ano de 2008, apontou que grupos minoritários compostos de negros e imigrantes, no contato com diversas instituições portuguesas, foram vítimas de racismo e de discriminação.

A professora de história Kátia Souza (foto ao lado), de 30 anos, garante que se soubesse que seria vítima de tanto preconceito por ser brasileira não teria deixado o Brasil e ido a Portugal fazer o curso de mestrado. Há 2 meses no país, ela se diz indignada pela forma como tem sido tratada pelos portugueses. “Sabia que sofreria preconceito na Europa, mas nunca pensei que ficaria sem poder alugar uma casa, mesmo tendo condições para pagá-la”, desabafa.

Kátia conta que por quase 1 mês andou na capital, Lisboa, à procura de moradia e, por diversas vezes, foi vítima de preconceito por parte dos portugueses, que se recusaram a alugar casa para ela, afirmando que não faziam negócios com brasileiros e nem com negros. “O mais traumatizante para mim foi quando, na minha busca, me hospedei com meu marido e minha filha de 2 anos em um hotel no centro de Lisboa e no terceiro dia de estada a funcionária percebeu que eu era brasileira e exigiu o pagamento do restante das diárias antecipado. Como se não bastasse, solicitou nossos documentos de forma grosseira, desconfiando que estivéssemos ilegalmente no país. Foi uma situação muito constrangedora, que eu não desejo para ninguém”, desabafa.

A jornalista portuguesa Carla Vaz, de 32 anos, garante que o que mais se ouve nas ruas de Portugal são justificativas dos portugueses para tamanho preconceito. “A imagem do brasileiro aqui é de pessoas barulhentas, que só arrumam confusões. Já as brasileiras são vistas como mulheres que vêm para tomar o marido das portuguesas e conseguir a dupla cidadania. Embora eu não concorde com esses pensamentos, não posso negar que são eles que predominam em grande parte da população portuguesa”, declara.

Para o antropólogo Mércio Pereira Gomes, autor do livro “O índio na história”, o preconceito português contra imigrantes, e em especial aos brasileiros, pode se justificar pelas razões históricas que ligam os dois países, ressaltando a relação de colonizador e de colonizado. “ O fato é que Portugal tem uma folha corrida de discriminação a brasileiros, desde a época dos dentistas, em fins da década de 1980. Agora, com seu declínio econômico, depois da bonança da ajuda da Comunidade Europeia, a situação tende a piorar. A xenofobia é uma das potencialidades humanas mais execráveis. A sociedade tem que estar atenta para manifestações xenófobas e racistas ”, afirma.

Já para Alexandre Ciconello, advogado e assessor de Direitos Humanos e Políticas Públicas do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), a xenofobia não é um sentimento de propriedade de Portugal, mas de toda a Europa, pois muitos europeus sentem que estão perdendo espaço de trabalho para os imigrantes, e essa indignação cresce, tornando-se em ódio. “A xenofobia é resultado de uma junção de desinformação, desigualdade e preconceito histórico”, ressalta.

Ele ainda alerta para os perigos que o sentimento pode acarretar e enfatiza a importância de se cultivar a tolerância, o respeito e a busca pelo cumprimento da declaração dos Direitos Humanos: “A gente tem que construir a nossa sociedade baseada na tolerância, respeito às diferenças e combate ao preconceito. Vale lembrar que as nações que não respeitaram isso, geraram guerras, como, por exemplo, o nazismo e os conflitos ainda existentes no Oriente Médio. Aqueles que se sentirem vítimas desse sentimento devem ir atrás dos seus direitos, fazendo cumprir a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada por 192 países do mundo, que garante que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, aconselha.